3. A fé à luz da razão.

Se é verdade que o pensamento filosófico anterior ao Cristianismo preparou o caminho para a fé cristã, também é certo que a fé cristã, por sua vez, aprofundou e esclareceu algumas conclusões a que já tinha chegado o conhecimento filosófico anterior.

  • Deus pessoal. A filosofia tinha chegado à conclusão da existência de Deus como primeiro Motor, mas um Deus a que se chega apenas através da razão não é ainda um Deus a quem se reza. O Cristianismo completa essa certeira conclusão monoteísta com a revelação de um Deus pessoal, alguém que fala e actua e, por isso, pode ser também objecto de uma relação pessoal.

  • A universalidade da verdade. A partir do momento em que a religião deixou de se identificar com a cultura de um povo e passou a ser o conhecimento da realidade, ganhou também uma nova dimensão: a universalidade. Na realidade, a verdade não é património de nenhuma nação, raça ou civilização, porque é património da humanidade, é universal. O monoteísmo é uma verdade universal, como universal é também o Cristianismo, ao contrário do judaísmo, que obedecia ainda a uma lógica nacional.

    Quando S. Justino abraça a fé é porque nela reconhece a filosofia verdadeira, o conhecimento da realidade: a sua conversão não corresponde a uma atitude de desprezo pela razão ou de abandono da filosofia que tinha cultivado, mas como o culminar do seu itinerário filosófico em direcção à verdade que, uma vez alcançada, já não se pode deixar.

  • A natureza. Quando Deus é identificado com a natureza, todas as forças naturais são expressões do querer divino, que subjugam o homem e o reduzem à insignificância da sua condição. O Cristianismo afirma a existência de Deus e da natureza, mas Deus não é a natureza, nem a natureza Deus, ainda que em Deus tenha a sua origem e causa última. O homem fica assim liberto dos seus antigos temores e aprende a dominar a terra que, sendo de facto criatura de Deus, lhe foi entregue para que a dominasse, sujeitando-a ao poder da sua razão.

  • A História. O Deus que é a alma do mundo, ou que se confunde com a natureza, não é uma personagem histórica, mas alguém distante com quem seria impossível estabelecer qualquer relação pessoal. Pelo contrário, o Deus cristão é um Deus que entrou, por força da sua encarnação, na História dos homens: porque Ele veio ao encontro dos homens, os homens podem ir ao Seu encontro.

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