Bento XVI designa este comportamento de uma forma particularmente significativa e crítica: «o pragmatismo cinzento da quotidianidade eclesial». Refere-se principalmente a dois aspectos que importa ressaltar:
2.1. O princípio da maioria em matéria de fé e de moral. É uma opinião muito generalizada entre os fiéis a ideia de que só aquilo que a maioria entende como sendo vinculante pode ser proposto pela Igreja como tal. Contrapõe Bento XVI: «uma fé que nós podemos determinar e fixar não é de modo algum uma fé». Om efeito, ou a fé procede de Deus através da sua Igreja e dos seus sacramentos ou então, pura e simplesmente, não existe. Subjaz a este entendimento uma lógica de poder: o princípio da maioria é um princípio de natureza eminentemente política que não tem qualquer fundamento evangélico (pelo contrário, recorde-se a reacção de Cristo ante o abandono e muitos dos seus discípulos – cfr. Jo 6, 66-71; ou, ainda, a sua condenação à morte a pedido de uma enfurecida multidão, etc.).
2.2. A liturgia. As diferentes reformas litúrgicas levaram a crer que os ritos da Igreja são opináveis e que, por isso, cada qual pode celebrar os mistérios da fé como melhor entender. Com efeito, se o Papa pode mudar o modo de celebração da Missa, porque não o podem fazer também os Bispos nas suas dioceses? E, se estes o fazem, porque não também os presbíteros nas assembleias a que presidem? Mais ainda, os próprios fiéis em comunidade podem sentir a necessidade de ultrapassar determinadas fórmulas litúrgicas e enveredarem por uma liturgia da vivência que, em certo sentido, poderiam ocasionar experiências pseudo-místicas equivalentes às propostas pela New Age e movimentos afins.
A este propósito interessa contrapor que a Igreja é simultaneamente hierárquica e carismática: a autenticidade das graças que Deus concede à sua Igreja verifica-se pela sua aprovação pela autoridade eclesial competente. Por outro lado, a liturgia não tende a provocar nos fiéis estados de ânimo mais ou menos gratificantes, mas em proporcionar-lhes o acesso à graça de Deus, quer pela via dos sacramentos, quer pelas práticas de piedade ou outros exercícios cristãos. Uma praxis eclesial que em vez de ser culto do Criador procurasse ser essencialmente satisfação da criatura seria idolátrico, porque o sagrado teria sido substituído pelo próprio homem, que dessa forma prestaria culto a si mesmo.
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