O conhecimento científico parte do princípio de que a realidade está estruturada matematicamente e que pode ser conhecida pela experiência, que a teoria interpreta ou explica num momento posterior. Na medida em que nem toda a realidade pode ser objecto de conhecimento empírico ou como tal compreendido pela mente humana, tende-se a considerar como pré-científicas, ou não científicas, todas as questões que não são susceptíveis de uma estruturação matemática.
Ainda que este modo de proceder seja razoável em relação ao que é o objecto das ciências experimentais, não se pode contudo aplicar a toda a realidade, na medida em que não faz sentido que o homem não se questione racionalmente sobre o que é essencial à sua existência e não é susceptível de um estudo científico, porque também não é aceitável que questões dessa natureza se resolvam por via do sentimento. Sempre que a religião se desliga da razão cai em formas mórbidas e patológicas, como também a ciência desvinculada da religião, nomeadamente na sua vertente moral, pode conhecer práticas monstruosas.
A conclusão é evidente: é preciso libertar a razão da prisão em que o espírito científico moderno lhe impôs e, de certo modo, recuperar a dialéctica socrática, ou seja, a capacidade de nos interrogarmos sobre tudo o que é essencial, sem excluir nada, nem muito menos o mais além, sem outra condição que não seja a vontade de conhecer a verdade. A exigência metodológica não pode ser expressão de uma falsa modéstia que, na realidade, privaria o ser humano do valor necessário para alcançar a verdade, porque a ciência, mais do que vontade ou domínio, é sobretudo serviço à verdade.
Por último, como resposta à inquietante hipertrofia do homem exterior e inquietante atrofia do homem interior, há que reforçar a capacidade mística do ser humano.
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